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Um ano do despejo das famílias das terras da Utinga Leão: dor, abandono e silêncio do poder público

  • Foto do escritor: Ivana Montenegro
    Ivana Montenegro
  • 22 de out.
  • 3 min de leitura

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Há exato um ano, no dia 22 de outubro de 2024, Messias viveu um dos episódios mais dolorosos de sua história recente. Famílias que residiam há anos em áreas pertencentes à Usina Utinga Leão foram arrancadas de suas casas de forma abrupta, em cumprimento a uma decisão judicial de reintegração de posse expedida pela 29ª Vara Cível da Comarca da Capital.


O mandado, datado de 12 de agosto de 2024, autorizava o uso de força policial e até arrombamento, se necessário. A execução da ordem foi marcada para o dia 22 de outubro, poucos dias após o período eleitoral, o que gerou questionamentos sobre a postura do Poder Executivo municipal.


Eleições adiaram a ação


Em entrevista ao programa “Tô de Olho”, da Rádio Messias FM, em 12 de junho de 2025, o vice-prefeito Marcos Valério afirmou que o gestor municipal tinha ciência da ação e que teria solicitado que ela só fosse cumprida após as eleições — informação que gerou forte repercussão à época.




As comunidades mais afetadas foram as das áreas do Lajeiro, Baixa Funda, Esperança, Canjica, Grota da Rola, entre outras, onde dezenas de famílias perderam tudo o que haviam construído ao longo de uma vida.


Condições precárias e descumprimento de promessas


Como resposta à Justiça, o município apresentou um plano de trabalho emergencial, prevendo acolhimento das famílias em escolas e creches, com alimentação garantida por apenas uma semana, além do uso do Ginásio Zé Lú como depósito de móveis e pertences.


Com o passar dos dias, o ginásio também passou a ser usado para abrigar temporariamente pessoas que não tinham para onde ir. O local, sem estrutura adequada, apresentava buracos no teto e infiltrações, e muitos acabaram perdendo seus pertences devido às fortes chuvas que atingiram a cidade naquele período.



Segundo reportagem publicada pelo Portal A Nova Democracia, as famílias camponesas despejadas em outubro de 2024 foram realocadas pela Prefeitura de Messias no Ginásio Zé Lú, um espaço sem condições mínimas de habitação, com fezes de pombo, goteiras, banheiros precários e estrutura comprometida.


Antes de serem levadas ao ginásio, elas estavam abrigadas na Escola Dinah Fonseca Duarte, também no loteamento Jarbas Maya. A troca, no entanto, não melhorou as condições de vida — apenas as transferiu de um ambiente precário para outro.


A reportagem destaca ainda que o acordo entre a prefeitura e a Usina Utinga Leão, que previa aluguel social e a cessão de 2 hectares de terras para construção de moradias, não foi cumprido. Poucos receberam o benefício, e muitos continuaram dependendo de ajuda de parentes ou vivendo no ginásio.


Durante as fortes chuvas que atingiram a cidade, o ginásio alagou, e moradores ficaram doentes após tentar limpar o local por conta própria. “A prefeitura não veio aqui, foi a gente que tirou a água”, relatou um camponês ao portal.


A matéria também registra o apelo de moradores de Messias, que pediam respeito e dignidade para as famílias afetadas, entre elas crianças, idosos e pessoas com deficiência, vivendo em condições insalubres e esquecidas pelo poder público.


Fonte: Portal A Nova Democracia

Camponeses despejados abrigados em ginásio em Messias (AL) enfrentam condições precárias devido a fortes chuvas


Como forma de conter a reintegração e minimizar os prejuízos sociais, o município poderia ter adotado medidas alternativas, como a desapropriação das terras ou a negociação direta com a usina, buscando garantir o direito à moradia das famílias e preservar o equilíbrio social. No entanto, nenhuma dessas ações foi adotada.


Despejo deixa marcas profundas


A Usina Utinga Leão, por sua vez, anunciou a disponibilização de 1 hectare de terra para realocação das famílias — área que, até hoje, nunca foi repassada aos antigos moradores. Sem alternativa, muitos foram obrigados a viver de aluguel — custeado de forma temporária pelo município — ou abrigados em casas de parentes.


As consequências humanas e sociais foram devastadoras.

Alguns moradores perderam a vida durante o processo de despejo, outros entraram em depressão, incapazes de lidar com o trauma de ver seu único lar sendo destruído por máquinas pesadas.


Foto: Ivana Montenegro
Foto: Ivana Montenegro

A economia local também sentiu o impacto: grande parte das famílias sobreviviam da agricultura familiar, produzindo alimentos tanto para o próprio sustento quanto para o comércio local.


Hoje, Messias amanhece de luto novamente, lembrando das famílias que perderam tudo — terra, casa, dignidade e esperança — e que seguem esquecidas pelo poder público, usadas como massa de manobra política em um episódio que marcou profundamente a história do município.


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